sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Atritos




Ninguém muda ninguém;
ninguém muda sozinho;
nós mudamos nos encontros.

Simples, mas profundo, preciso.
É nos relacionamentos que nos transformamos.
Somos transformados a partir dos encontros,
desde que estejamos abertos e livres
para sermos impactados
pela idéia e sentimento do outro.
Já viram a diferença que há entre as pedras
que estão na nascente de um rio,
e as pedras que estão na sua foz?

As pedras na nascente são toscas,
pontiagudas, cheias de arestas.

À medida que elas vão sendo carregadas
pelo rio sofrendo a acção da água
e atritando-se com as outras pedras,
ao longo de muitos anos,
elas vão sendo polidas, desbastadas.



Assim também agem os nossos contactos humanos.
Sem eles, a vida seria monótona, árida.
A observação mais importante é constatar
que não existem sentimentos, bons ou maus,
sem a existência do outro, sem o seu contacto.
Passar pela vida sem se permitir
um relacionamento próximo com o outro,
é não crescer, não evoluir, não se transformar.


É começar e terminar a existência
com uma forma tosca, pontiaguda, amorfa.
Quando olho para trás,
vejo que hoje carrego no meu ser
várias marcas de pessoas
extremamente importantes.


Pessoas que, no contacto com elas,
permitiram ir dando forma ao que sou,
eliminando arestas,
transformando-me em alguém melhor,
mais suave, mais harmónico, mais integrado.
Outras, sem dúvida,
com as suas acções e palavras
criaram novas arestas,
que precisaram ser desbastadas



Faz parte...
Reveses momentâneos
servem para o crescimento.
A isso chamo experiência.
Penso que existe algo mais profundo,
ainda nessa análise.
Começamos a jornada da vida
como grandes pedras,
cheia de excessos.



Os seres de grande valor,
percebem que no final da vida,
foram perdendo todos os excessos
que formavam as suas arestas,
aproximando-se cada vez mais da sua essência,
e ficando cada vez menores, menores, menores...


Quando finalmente aceitamos
que somos pequenos, ínfimos,
dada a compreensão da existência
e importância do outro,
e principalmente da grandeza de Deus,
é que finalmente nos tornamos grandes em valor.


Já viram o tamanho do diamante polido, lapidado?
Sabemos quanto se tira
de excesso para chegar ao seu âmago.


É lá que está o verdadeiro valor...
Pois, Deus fez a cada um de nós
com um âmago muito forte
e muito parecido com o diamante bruto,
constituído de muitos elementos,
mas essencialmente de amor.
Deus deu a cada um de nós essa capacidade,
a de amar...
Mas temos que aprender como.


Para chegarmos a esse âmago,
temos de nos permitir,
através dos relacionamentos,
ir desbastando todos os excessos
que nos impedem de usá-lo,
de fazê-lo brilhar


Por muito tempo na minha vida acreditei
que amar significava evitar sentimentos maus.
Não entendia que ferir e ser ferido,
ter e provocar raiva,
ignorar e ser ignorado
faz parte da construção do aprendizado do amor.


Não compreendia que se aprende a amar
sentindo todos esses sentimentos contraditórios e...
os superando.
Ora, esses sentimentos simplesmente
não ocorrem se não houver envolvimento...


E envolvimento gera atrito.
A minha palavra final: ATRITE-SE!

Não existe outra forma de descobrir o amor.
E sem ele a vida não tem significado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Cada vez me convenço mais que essa estrela que tens no meio da testa significa o quão especial és querida amiga!

Anónimo disse...

Palavras sábias as do amigo Nuno!