sábado, 31 de janeiro de 2009

Plenitude




Não tenho mais os olhos de menina
nem um corpo de adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
abrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou maus.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando noutros tempos choraria,
busca por te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te agora muito mais do que a beleza
e juventude: esses dourados anos
ensinaram-me a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso eu dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo que fujam — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

1 comentário:

Anónimo disse...

Hoje é o ontem de amanhã !